Martha Nowill conta como superou a ditadura da bunda
Mário Bortolotto: ator, diretor, escritor e figura fundamental da revitalização da Praça Roosevelt
Um treino com Fernando Guimarães, técnico da seleção brasileira de vôlei sentado
Ele não tem dó e tão exigente quanto qualquer outro técnico esportivo. Fernando Guimarães treina o time brasileiro de vôlei sentado desde sua criação, e explica nesta reportagem do Trip TV as especificidades desta modalidade que exige força e dedicação.
Ana Moser, Negra Li, Tata Amaral e canoa havaiana no Trip TV #36
Reprodução/Trip TV
Os irmãos de Para Nossa Alegria estão no programa desta semana
Ela é um dos maiores símbolos do vôlei feminino nacional e liderava o ataque da equipe que trouxe a primeira medalha olímpica para o Brasil nesse esporte, um bronze nos jogos de Atlanta, em 1996. No programa desta semana conversamos com Ana Moser sobre carreira, aposentadoria e recomeços.
"Memes"... "Virais"... O que são, de onde vêm, do que se alimentam e como se reproduzem? Pra entender esses estranhos fenômenos da internet conversamos com Bia Granja, cofundadora da plataforma YouPix, e com os protagonistas de dois dos maiores virais da rede brasileira: "Para nossa alegria" e "Maconheira do Enem".
Ainda nesta edição
Duas conversas com mulheres incríveis. Tata Amaral, uma das mais premiadas cineastas brasileiras da atualidade falando sobre produção audiovisual no país, e a a cantora Negra Li abre o verbo sobre cotas raciais e preconceito.
E em nossa matéria esportiva da semana, você vai conhecer mais sobre a canoa havaiana com um dos grandes campeões dessa modalidade aqui no Brasil, Sérgio Prieto.
(O programa estará disponível no player acima após a exibição na TV)
Trip FM: João Gordo e Ronnie Von
O Trip FM de hoje reuniu dois amigos, à princípio, improváveis para uma conversa sobre os mais variados (e polêmicos) temas. O apelido de um é "Gordo", e ele é líder de uma das principais bandas de punk e harcore do Brasil, a Ratos do Porão. O outro é conhecido como "Príncipe" e foi um dos maiores galãs brasileiros da década de 70.
Em comum, os dois tem as profissões: ambos são cantores e apresentadores de televisão. Estamos falando de João Gordo e Ronnie Von, a dupla que está nesse programa especial falando sobre maconha, Facebook, fãs malucos, Youtube, psicodelia, humor e mais um monte de coisa bacana.
Playlist:
Ghospoet - Off Peak Dreams
The Doors - People are Strange
Otto - Street Cannabis Street
Ronnie Von - Chega de Tudo
The Clash - The Magnificent Seven
O Trip FM vai ao ar na grande São Paulo às sextas às 21h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado 107,3MHz
Memes: os fenômenos da internet
Negra Li fala sobre cotas raciais e preconceito
Tata Amaral prepara ''O vilão da República'', documentário sobre José Dirceu
O nutricionista Antônio Lancha Jr explica os mitos da alimentação e obesidade
Divulgação
Antônio Lancha Jr.
Em abril a revista Trip se debruça sobre o tema “Peso”, assunto que aflige praticamente todo mundo nos dias de hoje. Então a gente resgata uma conversa que tivemos em 2013 com um dos mais gabaritados nutricionistas do país, Antônio Lancha Jr. Formado em Educação Física pela Universidade de São Paulo, ele fez mestrado e doutorado em nutrição experimental na USP e pós-doutorado em medicina interna na Universidade de Washington.
O Lancha também foi um dos responsáveis por montar o cardápio do Ronaldo Fenômeno no quadro "Medida Certa", do programa Fantástico, da Rede Globo e, junto com a esposa Luciana, é autor do livro Fuja da Dietas! Aprendendo a Comer: Escolha Isso, Não Aquilo.
Nesse papo com o TRIP FM ele fala sobre obesidade, obesidade infantil, atividade física, alimentação, vai desmistificar o consumo de alguns alimentos e ainda tirar dúvidas dos nossos ouvintes. Fica ligado que a conversa é boa!
O Trip FM vai ao ar na grande São Paulo às sextas às 21h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado 107,3MHz
Erasmo Carlos, Rico de Souza, Nash Laila e Maewe Jenkins no Trip TV #37
Conversamos com um dos maiores cantores e compositores brasileiros de todos os tempos, Erasmo Carlos. Em plena atividade aos 73 anos, Erasmo faturou no ano passado o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, batendo as bandas Titãs, O Rappa, Charlie Brown Jr. e o Nando Reis. Nesse papo com o programa, ele fala sobre esse prêmio e também sobre música, aposentadoria, Tim Maia, maconha e sobre os haters da internet: "Me chamavam de zumbi, morto-vivo... Diziam que se eu levantasse as mãos pro céu Deus me puxava. Eu fiquei revoltado e fiz uma música". "Surf é coisa de rico" Rico de Souza é um ícone do surf brasileiro e sua trajetória no esporte se confunde com a própria história do surf profissional no país. E essas duas histórias, entrelaçadas, são contadas no filme Surfar é coisa de rico. Pra saber mais sobre esse documentário, a gente conversou essa semana com o diretor do filme, Guga Sander, e com a própria lenda, Rico de Souza: "A coisa mais legal não foram os campeonatos que eu ganhei, mas os amigos que eu fiz nos quatro cantos do mundo". E ainda nesta edição: um papo sobre sexualidade, feminismo e cinema com as atrizes do filme "Amor, plástico e barulho", Nash Laila e Maewe Jenkins. E uma inusitada combinação de xadrez e hip-hop do grupo Xemalami.
Sebastião Salgado, Luiz Bolognesi e André Dahmer no Trip TV #38
Esta semana conversamos com Luiz Bolognesi, roteirista de grandes filmes do cinema nacional, como As melhores coisas do mundo, Chega de saudade e Bicho de sete cabeças: "Sempre é mais difícil fazer um conteúdo que não vai de interesse ao que vende ingresso. O cinema é uma arte esquizofrênica. Porque ele é arte e indústria ao mesmo tempo". Também reunimos Sebastião Salgado, um dos fotógrafos brasileiros mais reconhecidos internacionalmente, e seu filho, Juliano Salgado, codiretor do documentário indicado ao Oscar, O sal da Terra, para um papo sobre cinema, família e selfies: "Eu nunca fiz um autorretrato na minha vida. Eu tenho um pouco de vergonha de fazer. O selfie pra mim é uma agressão".
André Dahmer, quadrinista que faz um retrato crítico, ácido e muito engraçado da sociedade contemporânea na sua tirinha Malvados, fala sobre trabalho, prazer, política, patrulhamento ideológico e piadas preconceituosas: "Que tipo de idiota ainda faz piadas racistas?".
Ainda nesta edição: a trajetória vitoriosa de André Cintra. Ele teve uma perna amputada aos 17 anos e hoje, aos 34, é um dos principais para-atletas brasileiros. E, direto do litoral catarinense, toda a beleza da modelo Kalinca de Mello.
Que bom! André Marques, que fez o Mocotó, fala com a Trip
João Miguel Júnior/TV Globo e Felipe Gaspar André Marques, e André Marques com menos 75 kg A última atualização de André Marques no Soundcloud — site que usa para divulgar seu trabalho como DJ —, há um ano, foi um set de deep e tech house, mixado em novembro de 2013. O clima das músicas, e da vida de Marques, é como diz o título escolhido para o set: "Rebirth", ou renascimento, em inglês. Naquele mesmo mês, o apresentador havia se afastado do Vídeo show, programa em que esteve por quase 14 anos, para fazer uma cirurgia de redução do estômago — e ficou fora da televisão por cinco meses. Quando voltou, em abril de 2014, para apresentar o concurso de bandas SuperStar, já tinha perdido 50 dos 160 quilos que pesava antes. "Foi irado, porque eu voltei a trabalhar, que eu adoro, e encontrei com todo mundo, e as pessoas que se preocupavam com a minha saúde ficaram megafelizes porque viram que eu estava mais magro." Peso é passado "Tô ouvindo umas agora, 'tá magro demais', 'tá ficando com cara de doente', aí eu rio", diz. "E tem gente que fala 'operando o estômago é mole'. A pessoa que faz um comentário desses é imbecil. Adoraria ter emagrecido sem ter que fazer cirurgia, tentei oito anos e nada." Divulgação Como o jovem Mocotó, na época de ''Malhação'' Optar por uma intervenção cirúrgica não pareceu uma decisão fácil ou óbvia para Marques. "Começou a atrapalhar minha qualidade de vida. Tipo, meu quarto é no segundo andar e se eu esquecesse o celular falava 'putz, não vou subir as escadas de novo para pegar o celular'. Eu ficava ofegante, suava gelado." Ele também já não conseguia mais nem brincar com suas cachorras. São quatro, com 50 quilos cada uma, alimentadas com comida orgânica, e quando ia brincar de lutar com elas ficava sem ar, achando que ia ter um enfarte. O médico foi claro: Marques era uma bomba-relógio. Perguntando sobre a possibilidade de morrer na operação do estômago, ouviu que era mais provável que morresse de alguma doença relacionada à obesidade. Ele estava, por conta do excesso de peso, com diabetes, e já enxergando um pouco embaçado (a diabetes pode causar cegueira). Mas Marques, apesar de dizer que os ganhos foram maiores que as perdas, não quer ser visto como garoto- propaganda da redução de estômago. "Eu não faço apologia da cirurgia. Qualquer coisa que você perguntar, que você falar, eu já fiz. Spa, dieta de copo d'água embaixo da pia, um dia só ovo, um dia só brócolis, lipo e o cacete a quatro, mas o importante é cuidar da cabeça", diz. João Miguel Júnior/TV Globo/Divulgação André Marques no ''Video show'' De mão cheia O gosto por cozinhar é tanto que, no ano passado, Marques venceu um concurso culinário apresentado por Ana Maria Braga em seu programa matutino, Mais você, o "Super Chef Celebridades" — garantindo na final o voto do público e de quatro dos cinco dos jurados, incluindo o do famoso chef e sushiman Jun Sakamoto. Só recentemente, entretanto, depois da cirurgia, é que Maques passou a usar os seus conhecimentos culinários para cozinhar para ele mesmo, antes, "qualquer macarrão instantâneo tava valendo", diz. A parte boa mesmo de cozinhar, para Maques, é "o prazer de servir e agradar as pessoas". Na fazenda, conta, faz sozinho uma paella de fim de ano para os pais e os funcionários, 150 pessoas. Em casa, adora cozinhar para os amigos. Vacas gordas Arquivo Pessoal Recebendo Zico em seu açougue gourmet, o Prime Assim, em 2013, inaugurou a butique de carnes Prime, em sociedade com o marido da sua empresária. O sucesso é tanto que a loja vai ganhar uma filial no Leblon e mais cinco endereços pelo Brasil até o fim de 2016. Orgulhoso de ser pioneiro na venda de kobe beef no varejo no Rio, Marques também costuma passar um tempo na Prime vendendo carnes. "Nego não acredita. Vejo as pessoas falando: 'Caralho, achei que você era tipo um garoto-propaganda, contratado'", conta. "Também vão os caras que criam gado, e começam a me testar, fazer um monte de pergunta sobre corte, abate humanitário, e eu vou e blau. Eles falam: 'É rapaz, estudou bem, né? Achei que era tudo migué esse negócio seu com as carnes'." Eu, André Marques, DJ "Em Ibiza eu aprendi essa parada do respeito", diz. "Ninguém julga se a mulher passa no meio da boate, se o cara tá de tanga, se tem estria, celulite, se o cara tá gordo, se tá magro. Nego tá lá pra se divertir. Nego tá lá pra idolatrar a grande estrela que é a música." Arquivo Pessoal André Marques em versão DJ Marques comprou os equipamentos de DJ e descobriu que mixar não era tão simples. "Pensei 'putz, impossível essa porra'. Só que eu sou vaidoso, e queria aprender." Assim, chamou o DJ Wally Iglesias para morar na sua casa, ainda em Niterói, e passou um ano tendo aulas. No começo, tocavam juntos, no duo UP Music, Unidos Pela Música. Depois que Marques pegou confiança e se sentiu confortável, passou a se apresentar sozinho. A música que ele toca é house, mas as minúcias estilísticas de Marques mudaram bastante. Ele começou tocando um som mais acessível, mas nos últimos anos se "apaixonou pelas músicas mais cabeçudas" e enveredou para o underground, do deep e tech house. "Tocar pra cem pessoas que estão ali para curtir o teu som é mais importante que tocar para mil que não estão entendendo nada. Por isso, recuso tocar em festivais de pagode, axé, funk", explica. "Se eu tocasse um som pop, de rádio, dava para misturar, mas o som que eu toco não dá." Que bom! Depois da obesidade, o emagrecimento de Marques também foi motivo de piada — mas ele diz se divertir com a maior parte dos comentários. "Eu levo de boa, tem umas que eu rio, tem umas que eu falo: 'Putz, esse neguinho é muito babaca'", conta. "Lido bem porque eu mesmo me zoava, falava sou o gordinho mais bonitinho daqui etc." Um dos bullyings mais famosos é o do vídeo "André Marques que fez o mocotó! Que bom!", de 2013, uma paródia de "Don't stop til you get enough", de Michael Jackson, que fez amplo sucesso na internet. "Esse, por exemplo, quando me mandaram, um amigo falou 'André, fizeram um vídeo te zoando, você vai ficar puto'", conta. "Eu não fiquei puto nem nada, achei um vídeo trash, tem um quê de engraçado, tem um quê de má informação, porque a música fala que eu nunca fiz filme, e eu já fiz filme!", ri (Marques fez dois filmes, Xuxa em o mistério de Feiurinha, de 2009, e Um show de verão, de 2004). "Mas não achei uma parada agressiva. Não teve nada que me deixou puto, nada que me incomodasse a ponto de, sei lá, querer processar", afirma. Reprodução Atuando no filme ''Xuxa em o mistério de Feiurinha'' Mocotó eterno Antes de se tornar o Mocotó, Marques estudava teatro no colégio, em Niterói. Um amigo da mãe (que era diretora de ala da Imperatiz Leopoldinense), Ilclemar Nunes, jurado do Carnaval carioca no quesito mestre-sala e porta-bandeira há 30 anos e professor de teatro, conheceu o jovem Marques no barracão da escola de samba e o chamou para participar da peça Os sinos da Candelária, sobre a chacina de meninos de rua no centro do Rio pela polícia. Em um curso de teatro, ficou sabendo dos testes para Malhação. "A gravação era à 1 da tarde, porque tinha um monte de menor de idade", conta. "Eu estudava de manhã em Niterói, gravava até 21 horas, que é o horário da lei pra trabalhar, e depois iam levar todo mundo em casa. Eu era de Niterói, o último, né? Chegava meia-noite e pouco, tinha que contar pra mãe tudo o que aconteceu, dormia às 3 da manhã. Mas era divertido." Aline Massuca/TV Globo/Divulgação Se admirando antes do ''Criança Esperança'' Marques, hoje, não se importa em ter ficado marcado como Mocotó. "Eu ouvi pra cacete isso na época, de que ia ficar marcado como Mocotó. Eu tinha essa preocupação", diz. "Tem uma porrada de gente que ainda me chama de Mocotó. Eu acho irado. A galera pergunta: 'Pô você não fica puto?'. Eu falo: 'Porra, se tá na lembrança de todo mundo que comenta então é lembrança de coisas boas'." Ex-magro, ex-gordo Sobre relacionamentos, ele não gosta de comentar muito, mas afirma que o coração "tá bem, tá bombando". Já sobre sexo, o "único esporte" que praticava quando ainda estava obeso, diz que está bem melhor. "Pega 75 quilos e levanta, amarra nas costas e tenta dar umazinha pra ver se vai ser maneiro", ri. Mas o que ele não minimiza é a importância de ter emagrecido, que ele encara como um retorno. "Na verdade, sou um ex-magro, que fiquei gordo, e fiquei magro de novo", diz. "Hoje me sinto normal, em fazer coisas que eu não estava fazendo porque a obesidade não deixava." E resume o novo momento: "Estou mais feliz, mais bonito. Tem a felicidade de não estar fodido de saúde, achando que posso morrer a qualquer momento". Que bom!
A mudança estética também é visível: aos 35 anos, Marques está com 85 quilos, o mesmo que pesava quando ainda era o adolescente Mocotó, em Malhação. São 75 quilos a menos, e Marques já exibe resultados dos exercícios que passou a fazer (pratica stand up paddle e vai para a academia, embora não curta muito o clima de malhação, "vou porque tem que ir, acho horroroso").
Olhando a forma dedicada e um tanto obsessiva com que André Marques trata os temas pelos quais se interessa, é fácil acreditar que ele tenha mesmo tentado de tudo. Um deles é a culinária, que já vem desde a infância na fazenda do pai, criador de gado leiteiro no interior do Rio de Janeiro. "Meu pai sempre gostou de fartura, fazer um porco enterrado, um boi no rolete", conta.
Da cozinha vem um outro assunto que muito interessa Marques: carnes. Quando se mudou de Niterói para a Barra da Tijuca, para ficar mais perto do Projac, ele, fã da raça japonesa de gado Wagyu, não encontrou nos supermercados do novo bairro "uma carne gourmet, uma carne bacana" que lhe agradasse. Inspirado por um amigo de Niterói que já tinha uma loja de carnes de luxo, resolveu estudar o tema: foi conhecer Kobe, no Japão, terra dos Wagyus, pesquisou o mercado, falou com o pai, com os amigos que criam gado de corte.
É a música, entretanto, o grande hobby, paixão, terapia, de André Marques. O André Marques DJ nasceu, em parte, depois de uma viagem de última hora do apresentador a Ibiza, em 2007, por um motivo inusitado: acompanhar um amigo que queria pedir uma amiga em casamento. Desde então, Marques volta todos os anos ao arquipélago espanhol, "berço da boa música" — chegou a ir quatro vezes na mesma temporada, e sonha em ter uma casa lá depois da aposentadoria para passar o verão inteiro "andando na praia só de miçanga".
Bullying e preconceito são coisas que André Marques sentiu com força, principalmente depois que engordou. "Sofri, mas sou forte, e já vi muita gente que me zoava passar vergonha", conta. "Sou bem resolvido, e na Globo nunca houve imposição de padrão de beleza, pedidos para emagrecer, nada", diz. "Fiquei oito anos gordo apresentando o Video show."
Mocotó, claro, está presente na vida de Marques, ainda hoje. Mais em 2015, quando a primeira temporada de Malhação completa 20 anos. "Eu sei que é tempo pra cacete, mas ao mesmo tempo eu lembro de detalhes como se fosse ontem", conta. Há duas décadas, nem o Projac existia: as gravações eram no Cinédia, estúdio de 1930, no bairro carioca da Taquara, e que hoje virou um condomínio.
Voltar a atuar não é uma vontade de André Marques, porém. A ideia é continuar a carreira de apresentador inciada depois de Malhação. "Apresentar programa foi onde eu me encontrei", resume. "Mas sou empregado padrão, né? Se falarem que é para eu fazer..." Já o palco é outra história. Em 2016, Marques quer trabalhar no projeto de uma peça de teatro.
Trip FM: André Marques, 75 kg mais leve
Aline Massuca/TV Globo/Divulgação
André Marques se admirando antes do ''Criança Esperança''
Hoje, no Trip FM, a conversa com o ator André Marques, o eterno Mocotó da Malhação. Ele teve problemas sérios de saúde graças a obesidade e recorreu à uma cirurgia bariátrica para perder 75 quilos.
Ele contou sobre os problemas de saúde, do bullying que vinha sofrendo e também falou sobre a opção pela cirurgia e da nova vida após o procedimento.
O aúdio é parte da conversa que você pode ler neste perfil, publicado por nossa revista #242.
Playlist
Bee Gees - Lay it on Me
Bastille - Daniel in the Den
Gilberto Gil - Back in Bahia
Me and the Plant - Cordillera Girl
Faces - Ooh La La
O Trip FM vai ao ar na grande São Paulo às sextas às 21h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado 107,3MHz
A volta de RZO
Camila Eiroa
MC Calado, Sandrão (em cima), Dj Cia, Negra Li e Helião
Há dez anos afastados, o RZO acaba de voltar aos palcos com sua formação original e ingressos esgotados para shows em São Paulo. "A separação foi uma opção muito bem esclarecida no grupo, tudo foi dito. Não houve brigas. Mesmo separados, estávamos juntos", diz Sandrão, em entrevista exclusiva à Trip durante ensaio para os shows da nova turnê.
O som do grupo surgiu em Pirituba, zona oeste de São Paulo, em 1989. Com um retrato da realidade da periferia, foi um dos grandes nomes do hip hop em uma época que o movimento era muito marginalizado. A Rapaziada da Zona Oeste ajudou a revelar outros grandes nomes, como o até hoje insuperável Sabotage, descoberto em encontros do grupo.
MC Calado e Negra Li fizeram escola com o RZO e se tornaram membros oficias do grupo, ao lado de Helião, Sandrão e DJ Cia. Juntos lançaram quatro discos. O primeiro, O trem (1996), emplacou o hit "O Rap do Trem", uma denúncia do precário sistema ferroviário que serve a periferia. O último, Evolução é uma coisa (2003), marca o auge da carreira do grupo e também a pausa na carreira.
De lá pra cá, muita coisa rolou na vida de cada um deles. Helião foi se apresentar com os Racionais MC's e participou do disco solo de Negra Li, que além deste trabalho, lançou mais dois CDs, fez três filmes e o seriado Antônia, da Globo. Sandrão fez uma tour com Mr Catra pelos "morros do rio" e DJ Cia fez shows ao lado de Seu Jorge, Elza Soares e Caetano Veloso.
Algumas apresentações aconteceram durante a separação e mostraram a força que o nome do grupo ainda tinha para o rap nacional. "Foi por sermos cobrados nas ruas que percebemos a força que temos. A gente não enxergava isso", conta Cia, o maior responsável por botar pilha para o retorno do quinteto.
Mesmo a volta sendo um pedido dos antigos fãs, é possível perceber que muitos adolescentes, que tiveram acesso ao rap de uma outra maneira do que como era nos anos 90 e 2000, formam a plateia do show dos caras hoje. Sandrão atribui a responsabilidade disso aos rappers da nova geração, como Projota, Emicida e Criolo, que citam o grupo em suas letras.
Já Negra Li, acredita que essa busca é porque "faltam rappers que têm uma linguagem como na década de 90, sobre consciência humana e de menos crime."
Hip-hop ostentação
A conversa caminha para o novo hip hop, que não se limita mais a questões sociais e por vezes têm letras sobre ostentação. Questiono ao grupo se eles acreditam que por esse motivo a mídia se mostra mais aberta para a cena do rap, que antes parecia muito mais excluído e limitado à quebrada.
"O fantoche da ostentação foi criado há muito tempo. Te vende um passado distante, lá dos faraós, que tinha um cara andando em cima de todo mundo cheio de corrente de ouro. Isso aumenta o consumo e um monte de gente é escravizada pra fazer aquela porcaria que depois vai virar uma lata velha. Enquanto os hospitais estão um lixo, todo mundo está com celular. Mas a condução aumentou e as pessoas estão quebrando as coisas na rua. E aí, do que o rap tem que falar?", reflete Sandrão.
Para Li, é costume da mídia deixar o rap feito por negros de lado, enquanto vangloria brancos que fazem o mesmo tipo de música com letras que não falam sobre a situação social da periferia. "Nas premiações, tem pessoas brancas que fazem rap ganhando prêmio, enquanto trabalhos muito melhores de negros estão sendo camuflados. Quando existe essa apropriação indevida da cultura é muito triste. O espaço não é igual para brancos e negros."
Sandrão vai além: "O hip hop não é chamado pra passar na televisão. Eles pegam os jornais pra atirarem pedras no povo da periferia e pra falar das coisas ruins que estão acontecendo lá, nunca vão mostrar a cultura. É a manipulação que todos esses donos de televisão fazem."
Novo trabalho
Nesse retorno do grupo, eles estão trabalhando dois singles novos e querem manter o RZO como sempre foi, com letras que retratam a realidade das periferias sem deixar de olhar para frente. Eles prometem que não vão perder a essência e que o pensamento não é vender música, é mostrar para todo mundo o que vivem e sentem.
As duas primeiras apresentações de retorno aconteceram em São Paulo no dia seguinte ao desta entrevista. Os shows tiveram a participação de Karol Conká e Ice blue (Racionais MC's), e mostraram que o quinteto da zona oeste continua com a língua afiada.
Durante o show, que foi no palco do Sesc Pompeia, Sandrão lembrou de Cert, músico do ConeCrew Diretoria que foi preso por plantar maconha em casa, e alertou: "O dinheiro do tráfico deveria ser revertido para a educação, a proibição não proíbe nada!"
A cada hit do RZO, o público ia a loucura e cantava a plenos pulmões. Quando Negra Li entrou entoando Respeito é pra quem tem, famosa na voz de Sabotage, foi possível sentir na pele a importância que essa geração do rap tem para quem vive todo dia a luta que vem escrita nas rimas.
Que volta!
Rafael Losso no Trip FM
Ilana Besler
Rafael Losso no ensaio para a revista Tpm
Ele é ator e fez bastante sucesso na pele do Elivaldo, personagem da novela das 9 da Rede Globo, Império.
Paulistano formado pela Escola Superior de Artes Célia Helena, em São Paulo, seu primeiro trabalho em uma obra de destaque foi no filme de Walter Salles, Linha de Passe, de 2008.
Na televisão, participou da excelente série policial da Fox, 9mm, e da novela O Astro. No teatro, esteve em diversas montagens de Shakespeare, como Sonho de uma Noite de Verão, Ricardo III e Hamlet, na premiada versão de 2012 com Thiago Lacerda.
O papo hoje aqui no Trip é com Rafael Losso, ator que “quebrou a internet” nos últimos dias com o ensaio nu que ele fez pra revista Tpm que está nas bancas.
Playlist
Ziggy Marley - Beach in Hawaii
Billy Preston - Will it go Round in Circles
The Kooks - She Moves in her own Way
Secos e Molhados - Assim Assado
Hot Chocolate - You Sexy Thing
O Trip FM vai ao ar na grande São Paulo às sextas às 21h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado 107,3MHz
Leandro Hassum: ''Caguei para a crítica. Continuo cagando e vou cagar sempre''
Daryan Dornelles O ator e comediante Leandro Hassum está perdendo quilos e ganhando dinheiro. Aos 41 anos, a silhueta está 35 quilos mais fina, e a conta bancária milhões mais gorda. Em 2014, Hassum estrelou as maiores bilheterias do cinema nacional. Protagonizou quatro filmes assistidos por 8,1 milhões de espectadores, que faturaram R$ 92,5 milhões. Até que a sorte nos separe 2 levou 4 milhões de espectadores ao cinema e arrecadou sozinho R$ 45 milhões. Foi o único filme brasileiro a fazer frente aos blockbusters americanos que dominaram a lista dos 20 filmes mais assistidos no país, capitaneada pelos 6 milhões de espectadores de A culpa é das estrelas. A segunda maior bilheteria nacional de 2014 também foi estrelada por Hassum. O candidato honesto levou ao cinema 2,24 milhões de pessoas e faturou R$ 25 milhões. Vestido para casar, por sua vez, foi assistido por 1,27 milhão de espectadores com bilheteria de R$ 15 milhões. Os caras de pau em o misterioso roubo do anel atingiu 618 mil pessoas, com renda de R$ 7,5 milhões. O sucesso de público, no entanto, não encontra respaldo entre os críticos de cinema. "Caguei para a crítica. Continuo cagando e vou cagar sempre. O que incomoda a crítica é o fato de ser popular. Dizem que é humor rasteiro, sem mensagem política, sem refinamento. Para mim, a piada funciona se você riu. Se não riu, não funcionou. Pode ser elaborada pra caralho e não funcionar", fala. Novo estômago Hassum fez a gastroplastia redutora, também conhecida como cirurgia de FobiCapella ou bypass gástrico. É um processo que reduz drasticamente o tamanho e o volume do estômago, diminuindo consequentemente a ingestão de alimentos. Com o uso de um grampeador cirúrgico, o estômago é dividido em dois segmentos: um, menor, servirá de "novo estômago", e outro, maior, será excluído da passagem dos alimentos. Parte do intestino é desviada para que haja absorção menor dos alimentos ingeridos. O volume diário de comida passa a ser em torno de 20% do de antes da operação. Com a diminuição forçada da ingestão de calorias, a perda de peso ocorre de forma acelerada. Arquivo Pessoal Nova vida: Leandro Hassum praticando stand up paddle depois da cirurgia de redução do estômago Enquanto emagrece, Hassum dá sequência à carreira, que começou aos 16 anos, quando entrou num curso de teatro para extravasar a excitação da adolescência depois de ter sido expulso de três escolas. Nascido e criado na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, Hassum dividiu a carreira de ator com outras profissões, como garçom e professor de inglês. Chegou a ser Papai Noel em shopping center. Em 2015, completa 25 anos como ator, e há 20 anos vive exclusivamente dos papéis que interpreta. Há 15 anos, foi contratado pela Rede Globo para atuar no Zorra total. Tinha duas falas e recebia R$ 700 por mês. Quando já mantinha dois quadros no humorístico, saiu para estrelar o próprio programa, Os caras de pau, em que atuou com Marcius Melhem e que ultrapassou a faixa dos 100 episódios. Agora, Hassum está às vésperas de estrear nova série na Rede Globo. Chapa quente, na qual contracenará com Ingrid Guimarães e Thiago Abravanel, estreará em abril no horário nobre, ocupando a vaga de A grande família. Carreira internacional Carlos Alberto da Costa Moreira também era conhecido como Carlinhos da Lelé. Ele foi preso na semana anterior ao Natal de 1994, acusado de ser o diretor financeiro de um cartel internacional de drogas, com ligações com traficantes colombianos de Cáli e com traficantes da máfia italiana. Carlinhos da Lelé era dono de uma concessionária de veículos importados, que seria usada para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas. Em agosto de 1995, foi condenado a 20 anos de cadeia sob a acusação de tráfico internacional e formação de quadrilha. Hassum tinha 21 anos. Era um ator em começo de carreira. Fez visitas ao pai no presídio Frei Caneca, mas depois romperam por diferenças de temperamento, como afirma. "Até acontecer o problema de ele ir preso, ele fez questão de nos preservar. Não sabíamos de nada. Para nós, meu pai era um empresário bem-sucedido e de repente...", comenta Hassum, com gravidade. Divulgação Leandro Hassum com o ídolo Jerry Lewis nas filmagens de "Até que a sorte nos separe 2", em 2013 Para o futuro, o ator planeja carreira internacional. Quer usar a fluência em inglês para se apresentar em bares e teatros americanos. "Quero desbravar esse mercado", anima-se. Nada mal para quem coleciona uma lista de personagens no cinema com apelidos como Gordo, Sapo, Barba Azul, Zé Mané e Zé Grilo. Neste ano, acrescenta Capitão Gay à lista, ao estrelar filme dirigido por José Henrique Fonseca. Hassum falou à Trip em seu apartamento dúplex na Barra da Tijuca, no qual se destaca na parede um autógrafo de Jerry Lewis e a roupa que o comediante norte-americano usou em uma gravação com o ator brasileiro. Trip. Como é a vida 35 quilos mais magro? Pode comer de tudo? Fiz a cirurgia justamente para não ter restrição alimentar. Porque estar de dieta é muito chato: nunca mais coma glúten, açúcar; nunca mais tome álcool. Mas a gente quer ter prazer na vida. Quer comer um brigadeiro, uma picanha, um pãozinho quente com queijo na chapa. Hoje posso comer de tudo. O corpo emagrece, mas a cabeça continua como antes? A cabeça é de gordo, mas o que muda é que começa a buscar a gordice em coisas mais saudáveis. Tenho um estômago muito pequeno. Do tamanho de um ovo. Depois da redução de estômago, emagreço por três motivos. Com o estômago do tamanho de um ovo, ingiro pouco alimento e estou satisfeito. O segundo motivo é que, com a mudança no intestino, a digestão é mais rápida e não retenho tanta caloria. Também não retenho muita vitamina. Tenho de tomar suplemento vitamínico o resto da vida. Com o estômago reduzido, não produzo uma substância chamada grelina, que alerta para a fome. Como ela não é mais produzida, eu não sinto fome. Não tem frustração, não tem trauma. O gordo fica triste quando emagrece? Muita gente diz que todo gordinho que emagrece fica mais triste. Ser comediante é mais do que colocar um gordo vestido de malha. Ser comediante é ter a respiração da comédia. Ter a comédia como raciocínio principal. Ser gordo era uma das minhas piadas. Usar meu físico era uma das piadas. Mas tenho muitas outras. Divulgação Com o amigo André Marques, inspiração para fazer a cirurgia Por que decidiu fazer a cirurgia? Estava com 150 quilos, agora estou com 115. A saúde estava perfeita, colesterol em ordem. Decidi fazer a cirurgia num churrasco na casa do André Marques [ator e apresentador da Rede Globo, perfilado aqui]. Foi a primeira vez que o vi depois que ele havia emagrecido em razão da mesma cirurgia. Somos muito amigos. Temos os mesmos medos. Eu sempre fui gordo, desde pré-adolescente, 11, 12 anos. O André não era. Foi um cara que engordou. Sempre tivemos medo de morrer. Sentia falta de ar e achava que estava enfartando. Sentíamos essa coisa parecida. Ele contou que a cirurgia era simples e marcou a minha primeira consulta. Saí desse churrasco decidido a operar. Não pensou no lado empresarial? A imagem de gordo estabelecida junto ao público? Não pensei porque acho que já mostrei para o público a minha qualidade de trabalho. Crítica vai haver sempre. Vai ter sempre gente que não gosta do meu humor. Não gosta do meu, mas gosta do Fábio Porchat, ou gosta do Paulo Gustavo. Ou do Marcelo Adnet. Que bom que há essa diversidade. Cheguei num momento da minha carreira que não tenho dúvidas sobre o meu trabalho. Vou continuar a ser engraçado e a fazer meu público rir. É comum humoristas lembrarem de um período em que o Jô Soares ficou magro e, segundo alguns, ficou triste. A questão do Jô todo mundo pergunta. Existe uma diferença muito grande em fazer dieta e fazer a redução de estômago. Se alguém disser que não pode comer o que gosta, você vai ficar puto. Dieta eu fiz todas que você pode imaginar: proteína, com bola, sem bola, com anfetamina, sibutramina, de Atkins, da Califórnia, de South Florida, o médico milagroso, xarope de raiz de uma batata da Índia. Eu fiz de tudo. Tenho 41 anos. Tive tempo de fazer todas as dietas. O gordo ou está entrando, ou está saindo do regime. E regime dá mau humor. Voltei a fumar, infelizmente. Tinha parado havia cinco meses e voltei agora. Fumo desde os 18 anos. Começa muito estresse, muito trabalho, tenho de fumar. Não tenho mais a comida como fuga, voltei para o cigarro. Não é estar magro que deixa menos feliz. É estar com restrição de coisas de que você gosta. Por que o gordo é engraçado? Não acho todo gordo engraçado. Sou engraçado porque tenho uma disposição à comédia. Fui professor de teatro muito tempo. Ser comediante ninguém ensina. Você ensina técnica, aprimora. Mas a respiração do humorista vem com a gente. Eu respiro de forma diferente. A questão do gordo ser engraçado é uma piada. Colocar um gordo vestido de bailarina é uma piada. Mas se não tiver um texto bom, uma sustentação, tudo desmorona. Arquivo Pessoal Barbudo, na peça "Meteoro", em 2002 Foi um gordo engraçado quando adolescente? Era engraçado na escola, na adolescência, não por ser gordo. A adolescência é cruel com o tipo físico. Minha forma de lidar com isso era ser engraçado para ser interessante. E não ser o gordinho. A ideia era que esquecessem que eu era o gordinho e não sofresse bullying. Nunca tive problema com mulher, porque era divertido, animado, espirituoso. Não me excluíam. Promovia campeonato de lambada, de piada, de arroto. Era o representante de turma. Nunca pensando em usar minha gordura. Quando você é gordo e comediante, você está no nicho. Isso é bom e é ruim. Você praticava esportes? Nunca fui de esporte coletivo como futebol. Já surfei, mas na adolescência eu gostava mais de skate. Ainda ando bastante, em especial em Miami. Lá é meu meio de transporte. Você se define como ator ou comediante? Sempre ator. As pessoas me conhecem como comediante, mas acima de tudo sou um ator. Sou ator em busca de personagem. Tenho uma marca, um rótulo chamado Leandro Hassum. Quando as pessoas chamam o Leandro Hassum esperam que ele seja o Leandro Hassum. Obviamente não me incomoda. Comecei minha carreira e construí minha história sendo ator. Fazendo peças clássicas, com dramaturgia estruturada. Tenho prazer em construção de personagem. Fui diretor de teatro, professor de teatro. Minha história é de ator. Começa com 16 anos e vai até hoje. Qualquer trabalho que faço, mesmo que seja de comediante, é isso. Nunca fui moda. Nunca houve a moda Leandro Hassum. Fiz meu trabalho degrau a degrau. E, como nunca fui moda, não saio de moda. O ator pode estragar a piada de um comediante? O comediante vai falar uma frase pensando na piada. O ator pensa em contar uma história, onde precisa chegar. O comediante pensa em onde está a graça da história. Lê colocando tom e respiração de humor. Um bom comediante faz um papel dramático muito bem. Um bom ator nem sempre consegue fazer um bom comediante. Tem planos de fazer personagens tidos como sérios? Como espécie de resposta à crítica que só vê o lado de comediante popular? Se for um trabalho bom de personagem, seja comédia ou drama, eu faço. Não tem esse papo de que agora quero fazer uma coisa séria. Quero fazer o que me dê prazer. Caguei para a crítica. E continuo cagando e vou cagar sempre. A crítica com que me importo é do meu público. Das pessoas para as quais faço meu trabalho. Não é que não aceite críticas. Leio todas. Respeito os pontos que acho significativos, agregadores, que posso melhorar. Mas o que incomoda a crítica muitas vezes é o fato de ser popular. Humor rasteiro, sem mensagem política, sem refinamento. Para mim a piada funciona se você riu. Se não riu, não funcionou. Pode ser elaborada para caralho e não funcionar. Arquivo Pessoal Leandro Hassum com a esposa Karina, com quem vive há 17 anos Essa crítica de falta de refinamento não é uma característica do stand-up, mais voltado à comédia de costumes do que para as piadas ditas inteligentes? Discordo de que stand-up seja um humor não inteligente. Nem me incluo como stand up. Faço show de humor, o que é outra coisa. O comediante de stand-up é observador refinado do dia a dia. Já fui a stand-up no Brasil e fora do Brasil. O cara fazer dez piadas sobre a mesinha e fazer você rir dez vezes sobre um assunto que não o interessa nem nunca parou para pensar não é fácil, não. Acho humor de observação inteligente. Talvez não seja um humor crítico do qual vá tirar uma lição. É para se divertir. Chris Rock faz stand-up e tem uma puta bandeira ligada ao racismo. O George Lopez tem uma puta bandeira ligada ao povo latino. Bill Cosby tinha um stand-up baseado em observação da família que era genial. Seinfeld fez um programa inteiro baseado no nada. Qual a razão do sucesso dos seus filmes? Faço comédia popular, voltada para a família. Nos meus filmes, você pode levar o filho, a filha, a sogra, o sogro, a mulher. Só aí são cinco, seis, sete ingressos. O que tem de respeitar é o movimento que a comédia está fazendo de levar o público às salas de cinema. Até hoje o cinema é assim. Encontro gente na rua que diz que se divertiu nos meus filmes e diz: "E olha que não gosto dessa merda de cinema nacional". O cara se divertiu, mas foi com preconceito. Não vai com o mesmo preconceito assistir ao Adam Sandler, que gasta US$ 100 milhões para fazer um filme com a mesma qualidade que faço. Passei uma temporada nos EUA, estudando cinema, fazendo curso de direção, em Los Angeles. O que falta para a gente é qualificação técnica. Equipamento e criatividade, temos tanto quanto eles. Em qualidade de equipamentos somos melhores do que Sony, Warner... Os estúdios da Globo são melhores. Temos talento, criatividade. Falta um pouco de disciplina. Os autores lá ficam sentados na sala acompanhando a reação do público. Aqui ainda temos muito o que desenvolver. Fora que temos no Brasil 2.500 salas de cinema. Esse é o número de salas só na Flórida! Como recebe as críticas? A crítica tem que existir para a gente não se achar acima do bem e do mal. Mas a crítica tem de ser mais justa, menos pessoal, menos rancorosa. Mais uma comédia que é só para diversão, dizem. O que há de ruim nisso? Não tenho culpa se estão dando mais dinheiro para a comédia. Não sou eu que estou indo lá pegar o dinheiro. Os outros filmes não têm espaço? Não é culpa minha. É dos donos de cinema, dos donos de sala. É mercado. Compra e venda. Quem vende mais tem mais exposição. A gente vende mais. Mas forma plateia. Sou formador de plateia que está levando gente para ir ao cinema assistir a filme nacional. Vê a comédia e talvez depois vá ver um filme com mais embasamento. Quais as críticas que o incomodaram? Disseram que somos a nova chanchada. Não quero fazer chanchada. É um erro isso. Foram ver no dicionário e se tocaram. Falar que somos a nova chanchada é de uma estupidez atroz. A chanchada é consagrada, estudada, uma forma de fazer. O que a gente faz não é chanchada nem de longe. Estamos fazendo comédia. Filme de humor. Queriam usar para depreciar. O que a gente faz não é chanchada, mas fico honrado. Oscarito e Grande Otelo faziam chanchadas. Vou me sentir lisonjeado, mas é burrice dizer. Estou bebendo na fonte das comédias americanas? Pra caralho. Isso sim estou fazendo. Divulgação Em "Os caras de pau", de 2014, com o parceiro Marcius Melhem Vários atores, como Adam Sandler e Will Ferrel, que você admira, fizeram papéis dramáticos como resposta às críticas por suas comédias. Todos fizeram papel sério. Jim Carrey tomou porrada mas foi um gênio em Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Comediante é sempre criticado. Não penso em fazer filme sério para mostrar outro lado. Quero ser feliz. A Suzana Pires e o Walther Negrão estavam criando uma série em que eu seria um mau-caráter. O projeto não andou. Tenho um policial que estou escrevendo. Quero contar histórias. Sou mais visto como o cara que conta histórias engraçadas. Mas não me fecho para nada. Você filmou com Jerry Lewis em Até que a sorte nos separe 2. Como foi? Ele é uma das minhas referências desde a Sessão da tarde. É um dos grandes. Em 2012, tinha assistido a um show dele em Las Vegas. Fiz até uma pergunta, mas ele meio que me cortou na dinâmica do show. Falei que era comediante do Brasil, que queria contracenar com ele. Mas morreu o assunto. Quando decidimos fazer o filme dois em Las Vegas, o cara do hotel, que é um brasileiro amigo nosso, disse: "E se eu conseguir uma participação do Jerry Lewis?". Respondi: "Eu morro". Ele conhecia a nora do Jerry Lewis, que é uma brasileira, Patty Ascher, que é uma cantora de bossa nova. Ela fez o meio de campo. Só acreditei quando estava na frente dele filmando. Eram muitas exigências de produção. Muitas cláusulas. Filmamos de uma vez só, de 10 da manhã às 6 da tarde. Mistura de sentimento bom com ruim. Era muito bom estar ali com ele, mas não consegui relaxar. Depois ele me deu uma caneta de prata com o rosto dele talhado, um cartaz autografado e a roupa de bell boy com que atuou. Mandei emoldurar. E a nova série para a Globo? Vai se chamar Chapa quente e ter uma pegada política, social. Vamos entrar na faixa de A grande família, que falava de um país que estava entrando no mundo do PT. Este novo programa fala do calor, da falta de água, da corrupção. É a grande família falida. Você interpreta na série um personagem nascido em São Gonçalo, depois que viralizou um vídeo em que faz piada com os moradores da cidade. Há dez anos que sacaneio São Gonçalo no meu show. Sou suburbano da Ilha. Morei em Niterói. Quando fiz na TV, a piada ampliou. A internet é a arma dos covardes. Você não coloca o rosto e fala o que quiser. Posso dizer que você é um merda, porque você não tem como me achar. No começo do Twitter, eu achava que tinha de responder. Perguntava: "Bicho, por que está me tratando assim?". Aí o cara colocava: "Caraca, o Hassum falou comigo". O cara queria me xingar, me ofender para eu puxar conversa. Arquivo Pessoal Leandro Hassum com a turma da peça "Descontrole remoto", de 2002 Seus vídeos são assistidos por milhões na internet, mas são produções rudimentares. Pensa em concorrer num nível mais profissional como o Porta dos Fundos? Acho que o Porta é uma renovação. Acho genial. Assisto a todos. Como treinamento, faço uns vídeos. Há interesse para eu começar a dirigir no cinema. O Porta dos Fundos vem com um tipo de humor anárquico, que é difícil de correr atrás. Qualquer coisa que faça agora, vão dizer: "O Porta é muito melhor". É melhor mesmo. Porque eles encontraram uma chave, tem um profissionalismo ali que fez virar um grande negócio. Isso ainda não explorei. Mas vai haver oportunidade. Está só começando. Um dos seus sucessos de bilheteria é sobre um político corrupto que, de uma hora para outra, desaprende a mentir. Como acompanhou as manifestações de março pelo Brasil? Não fui à manifestação, não. Torço para uma mudança de comportamento. Sou totalmente sem partido. A briga é pelo Brasil. É meio piegas, mas é isso. É meio ingênuo achar que a coisa vai mudar, que não vai haver mais político corrupto. Hoje em dia está tudo entrelaçado. As formas de combater estão erradas. Por mais ator que a gente seja, os políticos são muito melhores. Infelizmente, fazendo um filme de merda em que a gente se fode no final. Sobre O candidato honesto, seria injusto não dar o crédito ao roteirista Paulo Cursino. Falei que gostava de O mentiroso, do Jim Carrey, de quem sou megafã. O Cursino disse: "Por que não fazer a versão brasileira?". Mas tem de ser com político. O que o americano acha do advogado, no Brasil a gente enxerga nos políticos. Lançamos o filme na véspera da eleição. Tem uma pegada crítica, mas apartidária. Fala da CPI da mesadinha. Disseram que o filme é chapa-branca. É uma comédia, para divertir. Se tirar uma mensagem, abrir o olho de um jovem, porque às vezes ele não se interessa em abrir o jornal, estou feliz. Estou cagando se é PT, se é PSDB. Mas quero que o país ande. O politicamente correto atrapalha o humor? O humor no Brasil está ficando careta. Gordo você pode falar. Mas se falar "viado", "neguinho", "português burro", fodeu. Falar da Igreja católica, da evangélica, fodeu. Tem sempre alguém se levantando contra. Nos Estados Unidos, há liberdade de expressão. Pode falar de quem quiser. Apesar de eles serem conservadores para caramba. O presidente Obama vai ao programa de humor se autossacanear. Já viu a Dilma fazer isso? O Lula? O Fernando Henrique? Nunca. Chegou um momento em que o humor não podia falar de política por causa da lei eleitoral. Os comediantes foram até para a rua. Eu não fui. Não tenho vontade de ir, mas acho bacana. Props Stylist Cris Mux/Camista Cotton Project/Daryn Dornelles E sobre a intransigência com as piadas sobre religião, cujo ápice foi a invasão do jornal satírico francês Charlie Hebdo que terminou com 12 mortes? A sociedade está intolerante. Isso está encaretando o humor para caralho. Eu faço piada em meu show sobre religião. É um dos momentos mais engraçados. Sacaneio a Igreja católica, a evangélica, todo mundo. Mas tenho carisma para fazer essa piada. Me coloco como um igual. Ninguém saiu ofendido por isso do meu show. E as críticas ao beijo na boca da Fernanda Montenegro com a Nathalia Timberg na novela das 9? Pura hipocrisia. Tem de mostrar que é normal. Fazia uma peça na Lapa, zona central do Rio, e ia de ônibus. Via carrões com senhores de gravata pegando os travestis. Reprimiam a sexualidade deles em casa para pegar travesti na rua, fazendo sem proteção. Não faça com que a pessoa que está em casa seja vítima do seu estrangulamento sexual. Por isso a TV tem que mostrar a homossexualidade. Mostrar que o momento é esse e é normal. Você é a favor da liberação das drogas? Sou a favor da legalização da maconha. Os países desenvolvidos estão fazendo isso. Não fumo, não tenho vontade, mas sou a favor. Minha droga é o cigarro. Mas tenho medo se, com a corrupção do jeito que está, será para o bem ou usado para outros fins. Seu pai foi preso sob acusação de tráfico internacional de drogas quando você era jovem e desconhecido. Como lidou com isso? Sempre tive uma relação boa com meu pai. Não gosto muito de falar desse assunto. O maior respeito que tenho por meu pai foi que, até ele ir preso, ele fez questão de nos preservar. Não sabíamos de nada. Para nós, meu pai era um empresário bem-sucedido que de repente... Eu tinha 21 anos. Visitei meu pai na cadeia. Tivemos discordâncias de convívio e me afastei. No final da vida, estávamos juntos, ele em casa, com minha mãe. Estava bem. Sempre teve carinho pela minha mãe, sempre tive respeito por esse homem que meu pai foi. Discordava muitas vezes da forma de ele pensar, como ele discordava da minha. Não éramos próximos, mas respeitava muito. Tive uma sensação muito louca quando ele morreu, e até hoje tenho, um cara tão forte, dono de uma verdade dele, que até hoje é difícil de acreditar. Sofreu um infarto em casa, uma semana antes de eu operar. Morreu uma semana depois. Sentiu dores e achava que era dor de estômago. Tive de ligar para ele para convencê-lo a procurar o médico. Quando chegou lá, não o deixaram sair. Estava infartado. Tinha 74 anos. O problema do meu pai era o cigarro, era sedentário. Quais os seus planos agora? Estou começando a tentar explorar um mercado fora, internacional. Já fiz apresentações em Boston, Nova York, Flórida, Nova Jersey. A maioria da plateia era brasileira. Mas como falo inglês fluente, fui professor de língua, estou criando um show em inglês. Vou testar em apresentações de 5 minutos em bares de Nova York, em casa de comédia em Los Angeles. Quero desbravar esse mercado.
Números impressionantes também o perseguem na balança. Após cirurgia de redução do estômago, levou seus 150 quilos para 115 em três meses. Espera em breve cruzar a barreira dos 100 quilos. "No momento, acho que não tenho mérito nenhum de ter emagrecido. Ainda tenho preguiça de fazer exercícios", comenta.
Uma semana antes de passar pela cirurgia de redução de estômago, o pai de Hassum enfartou. Morreu 15 dias depois, quando o ator ainda se recuperava da operação. Saiu do hospital para o cemitério, encerrando uma relação dramática com o pai.
Leandro Hassum. A gente fica um pouco debilitado, mas não sei o que é sentir fome. Estou num ritmo de me alimentar de 3 em 3 horas. É importante comer por conta da absorção pequena que tenho hoje de proteína e vitamina.
Amaral, Fluvia Lacerda, grafite e gourmetização no Trip TV #39
Ele atuou nos principais times de futebol do Brasil, pela seleção brasileira e por grandes clubes do exterior. Aos 42 anos, saiu da aposentadoria para defender o time da sua cidade natal, o Capivariano. Conversamos com uma das mais folclóricas figuras do futebol nacional, Amaral: "Hoje eu estou jogando com pessoas que colecionaram minhas figurinhas". Conhecida como a Gisele Bündchen da moda plus size, Flúvia Lacerda é uma das mais famosas e requisitadas modelos do mundo. A bela estrela um ensaio sensual exclusiva: "Beleza é você estar bem com a própria pele", garante a modelo. Inspirados pela verdadeira febre de programas gastronômicos que atinge a televisão brasileira, convidamos um dos mais temidos e odiados críticos gastronômicos do país, o Julio Bernardo, ou JB, para avaliar a qualidade das receitas desses programas: "Chamar algo de gourmet é se aproveitar da falta de parâmetro dos outros e rotular um produto para cobrar mais por ele". E ainda nesta edição: uma conversa sobre grafite e liberdade de expressão com Rafael Hayashi e Enivo, dois dos artistas responsáveis por uma das obras mais polêmicas dos últimos anos: o suposto Hugo Chávez da avenida 23 de maio. Roda quadrada? Nosso repórter especial Luís Roberto Formiga mostra uma turma que reinventou a roda para andar de skate pelas ruas esburacadas das cidades.
Charles e Gabriel Medina no Trip FM
Tomislav Moze/Red Bull Content Pool
O campeão mundial de surf Gabriel Medina
E a conversa hoje é com o atual campeão mundial de surf profissional, Gabriel Medina, primeiro brasileiro a conquistar o título. No Brasil à espera da próxima etapa do WCT (World Championship Tour), que acontece a partir do próximo dia 11 de maio no Rio de Janeiro.
Entre compromissos com um patrocinador e outro, nossa equipe foi atrás do garoto e conversou com ele sobre seu início ruim nessa temporada de 2015, sobre suas expectativa para o resto do campeonato, sobre a pressão de ser o atual campeão mundial, sobre medo, grana, virtudes, defeitos e, claro, sobre surf.
Quem também conversa com a gente é o padrasto do Gabriel, a quem ele chama de pai, o grande Charles, que também é o treinador do campeão.
PLAYLIST
The Eletric Peanut Butter Company - Spread the Jam
Lucas Santtana - Cira, Regina e Nana
Paul Simon - Loves me Like a Rock
Shakey Graves - Dearly Departed
Bob Marley - Jamming
O Trip FM vai ao ar na grande São Paulo às sextas às 21h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado 107,3MHz
Ronnie Von, João Gordo, Rafael Losso e Vilanova Artigas no Trip TV #40
O apelido de um é Gordo e ele é líder de uma das principais bandas de punk e hardcore do Brasil. O outro é conhecido como Príncipe e foi um dos maiores galãs brasileiros da década de 70. Enquanto o Brasil vive esse momento maluco, onde os discursos estão cada vez mais polarizados e as pessoas cada vez mais fechadas ao que é diferente, reunimos amigos improváveis: Ronnie Von e João Gordo. A dupla fala sobre maconha, Facebook, música e política. O ator Rafael Losso, protagonista de um dos ensaios sensuais mais ousados (e comentados) da revista Tpm, fala sobre música, teatro e seu trabalho na novela Império, na qual viveu o Elivaldo. Ah, claro: ele mostra as fotos nas quais aparece completamente nu. "Fazer o ensaio pelado foi mais fácil do que eu pensava, porque eu tenho muito medo de foto." Ainda nesta edição: entre o ringue e o boteco, os simpáticos irmãos William e Wagner contam um pouco da história do sumô. E um passeio pelas obras de Vilanova Artigas, um dos principais arquitetos brasileiros do século 20.
(O player acima começa a funcionar após a exibição do programa na TV)
Inspirada pelo Marco Civil da Internet, 'Plataforma Brasil' discute reforma política no país
Quando o Marco Civil da Internet (lei que regula o uso da web, com os direitos e deveres dos usuários da rede) foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff em abril do ano de 2014, o criador da rede mundial de computadores, Tim Berners-Lee, elogiou a iniciativa brasileira. "O Marco Civil foi criado por seus usuários, um processo inovador, inclusivo e participativo que resultou em uma política que equilibra os direitos e responsabilidades dos indivíduos, governos e corporações que usam a internet", afirmou ele às vésperas da aprovação da lei. Lee se referia à forma participativa como o texto foi elaborado, com um amplo processo de colaboração pela internet de empresas, governo, terceiro setor, usuários, programadores e interessados em geral. Agora, alguns dos responsáveis pelo Marco Civil querem usar a experiência para discutir políticas públicas no páis. Na segunda-feira, 4 de maio, o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) lançou a Plataforma Brasil, uma ferramenta para a discussão popular sobre a criação de propostas de leis e temas de interesse público. O primeiro assunto a ser abordado será a reforma política no país, com tópicos como financiamento público de campanha e voto distrital. "É um assunto de suma importância, que está avançando no Congresso sem que a sociedade brasileira tenha tido a oportunidade de participar do debate", afirma o advogado Ronaldo Lemos, colunista da Trip e sócio-fundador do ITS-Rio. A pedido da Trip, ele respondeu a perguntas sobre o tema.
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Ronaldo Lemos, um dos idealizadores da Plataforma Brasil
Qual é o objetivo da Plataforma Brasil? Usar a tecnologia para melhorar a forma como são feitas as políticas públicas no país. A plataforma foi construída com base na experiência que tivemos como idealizadores do Marco Civil da Internet. Por sete anos, usamos a web para debater e articular o Marco Civil e o resultado foi muito positivo, tanto em termos de processo quanto de resultado. Com base nessa experiência, criamos uma plataforma que permite expandir essa possibilidade para outras áreas.
Que debate vocês imaginam provocar, dado o clima de forte polarização política no país? A plataforma é feita para superar essa polarização. Olhando para o debate político realizado por meio das redes sociais nas últimas eleições, a sensação é de uma enorme frustração. Foi um debate nada construtivo, que mais parecia briga de gangues. E, para piorar, um debate sem memória. Onde estão os registros de tudo o que foi dito? Desapareceram enterrados em milhares de timelines no Facebook. Estamos fazendo o contrário disso: um debate transparente, em uma plataforma com memória, que desde o início conta com a participação de vários setores: sociedade civil, academia, setor privado, setor público e cidadãos de modo geral. É um debate onde o conhecimento é cumulativo, aberto a dados empíricos e em condições de transparência. Algo raro no debate político.
Quais as semelhanças com o debate sobre o Marco Civil? Usamos a experiência do Marco Civil, mas de forma aperfeiçoada. Quando o marco foi debatido online em 2009, o Facebook não era relevante no Brasil. Hoje é uma peça central da esfera pública. Desse modo, a arquitetura do debate dialoga diretamente com ele, mas o debate acontecerá fora dele. Levamos um ano desenhando a tecnologia para construir o mecanismo de debate e priorização dentro da Plataforma Brasil. Vale a pena conhecer porque é um modelo poderoso.
Quanto tempo demorou entre o início das discussões e a aprovação do Marco Civil da Internet? A criação do Marco Civil foi em 2007. A sua discussão online aconteceu em 2009. A aprovação final foi em 2014. Ou seja, demorou sete anos para ele ser aprovado. Com a Plataforma Brasil estamos fazendo diferente. O foco não é apenas projetos legislativos, mas sim a construção de políticas públicas. Uma vez construídas, elas serão monitoradas, cobradas e haverá interlocução direta com quem é responsável por sua implementação.
Como vocês garantem que a discussão seja relevante e de alto nível? Vocês têm parceiros fixos que participam do debate? Existe algum mediador? O elemento central da plataforma são as parcerias em torno dela, que são os pontos de partida. Por exemplo, para debater reforma política, nosso parceiro inicial é o IESP (Instituto de Estudos Sociais e Políticos), da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). É uma instituição reconhecida na área, que garante um alto nível de discussão. Não é preciso concordar com as visões do IESP, mas elas servem como ponto de referência a partir de onde o debate será construído. A segunda etapa da plataforma será a reforma do sistema de segurança pública no Brasil, incluindo as polícias. Estamos conversando com lideranças nessa área para darem o ponto de partida. E temos um ombudsman: Manuel Thedim, economista reconhecido e fundador do site Vozerio.org.br. Sua função é acompanhar todo o uso da plataforma e funcionar como um "ouvidor" geral sobre sua utilização, garantindo que o debate siga em condições ideais.
Vai lá: plataformabrasil.org.br